Oficinas desta quinta-feira (8) em Mossoró tiveram como foco a atuação da iniciativa pernambucana que visa acolher a mulher para uma decisão amadurecida sobre a entrega de crianças para adoção
O segundo dia de programação do curso “Acolhida de mulheres com interesse na entrega de crianças para adoção”, promovido pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) na sede das Promotorias de Justiça de Mossoró, com as oficinas ministradas pelo psicólogo Paulo Teixeira e pela pedagoga Cynthia Maurício Nery, ambos integrantes da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça-TJPE e da Coordenação do Programa Acolher TJPE, com foco no público que compõe a rede de proteção à mulher.
Durante a oficina, eles explicaram que o programa Acolher não é uma iniciativa de incentivo à adoção, mas sim visa a apoiar a mulher para uma decisão amadurecida: nem para forçá-la a ficar com a criança, nem para tirar seu filho e colocá-lo em adoção. Para o psicólogo, o programa atua de forma a garantir que a mulher reflita e consolide o desejo da entrega responsável. “Em alguns casos, elas de fato decidem pela entrega da criança e em outros desistem também. É nesse momento em que o sistema de Justiça entra em outro lugar. Isso porque temos a visão do judiciário decidindo sobre a vida das pessoas, então isso muda”, destacou.
Apesar de o programa Acolher TJPE propor um fluxo inicial de atendimento, cada local estabelece seu próprio fluxo, a partir das peculiaridades locais. “Em um programa como esse, o objetivo é fazer com que o sistema de Justiça atue como apoiador para que a mulher e sua família decidam como agir, sem interferir diretamente nesse processo”, explicou Paulo Teixeira. A pedagoga Cyntia Maurício Nery acrescentou que “a base do programa é o respeito. É o que a mulher quer. Respeitando isso. Por isso é importante o direito ao sigilo”.
Paulo reforçou o papel da escuta ativa, que deve ser desempenhando por todos os atores que vão ter algum contato com essa mulher. Segundo ele, treinamentos como esse funcionam como exercício das situações práticas. “Em geral, podemos ter a tendência de querer resolver, só que resolver o problema dessa mulher é potencializar esse problema. Então é nos momentos de capacitação que fazemos as reflexões: como podemos escutar de forma mais aberta possível, para que a mulher decida qual a melhor situação para ela e para a criança que ela gerou. Se ela tem condição emocional de desenvolver uma relação ou se é melhor a criança ir para uma família que a deseje. E aí nossa busca é atender tanto o desejo da mulher como o direito da criança”, complementou.
O psicólogo acrescentou ainda que percebe que Mossoró está passando por um momento interessante, histórico, em prol do desenvolvimento de um programa de acolhida à mulher que manifesta o interesse de entregar sua criança para adoção.
A programação do evento foi reformulada para que o juiz Élio Braz desse continuidade às explanações sobre as experiências vividas sobre a temática do curso, na Vara da Infância de Recife. Ainda durante a fala do juiz, no período da manhã, a plateia pôde fazer questionamentos ao magistrado.
Após o almoço, o psicólogo Paulo Teixeira seguiu com a capacitação abordando assuntos de interesse da rede de proteção à criança e ao adolescente. A oficina teve um momento conceitual e outro de práticas. Na parte conceitual, o psicólogo tratou de temas como o mito do amor materno, de como isso se constrói na sociedade. Já na parte prática, explicou a dinâmica dos fluxos de encaminhamentos, das comunicações que devem acontecer de forma documentada entre as instituições envolvidas com o acolhimento da mulher e da criança.
A coordenadora de Saúde da Mulher de Mossoró, Suiann Costa, anunciou que a Secretaria Municipal de Saúde pretende realizar capacitações com as equipes das unidades. “O curso está proporcionando um momento muito significativo. Estamos avançando porque toda a rede básica de saúde precisa entender que essas mulheres que têm intenção de entregar os filhos precisam de acolhimento, precisam fugir da questão da rotulação. São situações que vamos ter que lidar diariamente que requerem sensibilidade. Outra coisa que chamou atenção é que não existe uma fórmula pronta”, acrescentou.
A programação do curso será encerrada nesta sexta-feira (9), com a continuidade da oficina ministrada por Paulo Teixeira e Cynthia Maurício Nery, com foco no sistema judiciário, abordando os fluxos e os papéis de cada instituição.
Confira as fotos:
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